Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados…
E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo…
E, aqui dentro, o silêncio… E este espanto e este medo!
Nós dois… e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte…
Eu, com o frio a crescer no coração, – tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!
E eu morrendo! e eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! a delícia da vida!
Olavo Bilac, Antologia poética
4 Comentários
Populina - Ademar Amâncio (@Ademaramancio1)
29/01/2022 at 10:59Genial,uma música do Belchior me trouxe aqui.
Márcio
06/04/2024 at 12:59Esse poema foi citado por Helena em História de Amor, por isso vim pesquisar no Google e cheguei aqui.
marcioacordeiro
06/04/2024 at 13:01Esse poema foi citado por Helena em História de Amor, por isso vim pesquisar no Google e cheguei aqui.
Maria Santoro
07/04/2024 at 03:03Lindíssimo poema! Bilac não decepciona nunca…