AMOR, quando chegares na fonte distante,
cuida para não me morder com voz de sonho:
para que a minha dor não morra nas tuas asas,
que na garganta de ouro voz não se afogue.
Amor – quando chegares
na fonte mais distante,
sê turbilhão que assola,
sê rompante que crava.
Amor, desfaz o ritmo
da minha água tranquila:
saibas tu ser a dor que retine e que sofre,
saibas tu ser a angústia que retorce e grita.
Não seja eu esquecido
não me dês a ilusão
Porque todas as folhas que caíram na terra
foram tingindo de ouro meu coração.
Amor – quando chegares
na fonte mais distante,
desvia minhas vertentes,
crispa as minhas entranhas.
E assim uma tarde – Amor que tens as mãos cruéis -,
ajoelharei ante de ti e te darei graças.
Pablo Neruda, Crepusculário
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