Amiga, é teu beijo quem canta como um sino na água
da catedral submergida por cujas janelas
entravam os peixes sem olhos, as algas viciosas,
embaixo no lodo do lago Llanquihue que adora a neve,
teu beijo desperta o som e propaga para as ilhas do vento
uma encubação de nenúfar e sol submarino.
Assim do letargo cresceu a corrente que nomeia as coisas:
teu amor sacudiu os metais que afundou a catástrofe,
teu amor amassou as palavras, dispôs a cor da areia,
e levantou no abismo a torre terrestre e celeste.
Pablo Neruda, A barcarola
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