Se fosse o Ser quem fala no poema
eu calaria a boca, e é até possível
que o escutasse, um pouco. Sem problema;
seria, eu sei, um papo de alto nível.
Mas esta fala aqui — garanto — vem
de um mero estar, minúsculo, mortal,
prosaico e costumeiro, a voz de alguém
que embora sonhe no condicional
habita — na vigília — o indicativo,
e fala sempre, sempre, na primeira
e singular pessoa que está sendo
agora e aqui, como qualquer ser vivo
com o dom da palavra (a trapaceira),
tal qual faz quem me lê neste momento.
Paulo Henriques Britto, Medida do Silêncio: uma Antologia Comemorativa
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