Antes quis ser normal.
Como todo mundo, quis ser todo mundo.
Até a estupidez alheia me era santa,
por ser raiz dessa felicidade besta
de quem só sabe ser feliz.
Nisso fracassei, como tantos outros.
Fabriquei outros projetos, bebi de um trago só
o esterco do ridículo, e constatei
que o gosto era de mel.
O mel enjoa. Hoje sou quase puro,
quase honesto, competente, estúpido
como toda gente, o espelho exato
do que não quis, ou pude, ou soube ser.
Falhei até no fracasso. Agora o jeito
é me encarar de frente
e me reconhecer.
Paulo Henriques Britto, Minima lírica