Só o sonho é inevitável. Quanto ao resto,
há sempre a possibilidade aberta
de fazer outro gesto, dizer uma
palavra que é o contrário de si mesma.
De puro há a alucinação, a imagem
de alguma coisa rara escorregando
por entre dedos que se fecham em garra,
grudentos de vazio. (Fora a caneta,
é claro.) De absoluto há sempre o corpo
com seus prolongamentos — braços, pernas,
uma cabeça que inventa tudo —
e essa vontade à toa de ser só
o que a janela mostra, um chão, um poste,
uma paisagem áspera de rua.
Paulo Henriques Britto, Mínima Lírica
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