Entre o momento e o ato
que preenche esse momento
há no entanto um intervalo
— hiato entre o estar e o tempo —
domínio branco e exato
do que jamais vem a ser.
Nesse espaço sem medida
— ou tempo incomensurável —
o que de ser chegou perto
sem chegar a ser de fato
se cristaliza na forma
desconsolada do nunca
porém — por obra do quase —
permanece aquém do nada.
E quando se fixa para sempre
o inevitável das coisas
— história única do real —
a inexistência precisa
e insistente do possível
privada de espaço e tempo
penetra nos poros dos seres
permeia o ato e o momento
— névoa densa e teimosa
que não há sol que dissolva.
Paulo Henriques Britto, Mínima Lírica