Poeta da Natureza, o dissabor
choraste, que o que parte não regressa:
viço, amizades, o primeiro amor,
só doces sonhos, que a tua mágoa expressa.
Tais dores também sinto. Uma delas
tu a sentiste, mas só eu a lamento.
Lançaste luz, mais erma das estrelas,
em frágil barca, ao hibernal relento:
resististe, rochoso bastião,
contra a cega e violenta multidão:
na pobreza mais nobre, dedicaste
o teu canto à verdade e liberdade, —
e eis-me de luto, porque as desertaste,
que, por tal razão, deixes-nos saudade.
Percy Shelley, Prometeu desacorrentado e outros poemas