Senhor, estamos sós, já não nos chamas mais!
Não nos escutas mais ano a ano, dia a dia!
Pra cá, nossos escuros pra lá, só Tua luz,
não tens por nossos males nem ira nem piedade.
Passaram trinta séculos, nada, nada mudou,
todo o povo se uniu se uniu para o combate,
mas nossas trevas são trevas de todos nós
e apartar luz e treva só Tu mesmo é que sabes!
Dias de lida! Dias mortos! Já desponta a carroça
no rumo na estação pela praça quieta
e se detém na frente da escadaria nova,
chiando no cascalho que o pobre sol escalda.
Portões estão fechados, dois caminhões esperam
parados entre escombros, entre secas acácias,
e uma velhinha empurra o carrinho apertando
ansiosa uma ponta do lenço com os dentes.
O rapaz com a gaita salta fora tocando
e o outro, mais novinho, chicote na cintura,
dá forragem ao cavalo e então entra dançando
bem diante dos outros, vaidosos no balcão.
Cantam um pouco bêbados bem cedo de manhã
com seus lenços vermelhos em volta da garganta,
pedindo com voz rouca quatro litros de vinho
e café para as moças que já choram caladas.
Venham, trens, e carreguem esses jovens que cantam
com seus blusões ingleses e camisetas brancas.
Venham, trens, e carreguem pra longe a juventude
a buscar pelo mundo o que aqui se perdeu.
Levem, trens, pelo mundo a não rir nunca mais
estes jovens alegres enxotados da aldeia.
Pier Paolo Pasolini, Poemas