Propalada por todos os clarins do céu,
Chega a neve e, movendo-se ao alto dos prados,
Parece nada clarear: o ar em branco
Encobre bosques e colinas, céu e rio,
Dissimula a fazenda no fim do jardim.
O piloto e o trenó pararam, os pés dele
Lentos, amigos mudos, companheiros sentam-se
Em torno da luzente lareira, fechados
Num confuso refúgio fora da procela.
Venha ver a alvenaria do vento norte.
Provindo de pedreira sempre nunca vista
Guarnecido com telhas, o feroz artífice
Dobra seus brancos bastiães, tetos traçados
Em volta de barlaventos, ou porta ou árvore.
Lesto, mãos em miríades, seu fero obrar
Tão fantástico e selvagem, nada lhe importa
Seja número ou simetria. Zombeteiro,
Em cesto ou canzil pendura volutas párias;
Uma forma de cisne ataca o acúleo oculto:
Toma a vida do lavrador de lado a lado,
Apesar dos suspiros deste; e no portão
Uma cônica torre sobreleva a faina.
E quando suas horas são marcas e o mundo
É todo dele, só, qual se não existisse,
Deixa, quando aparece o sol, esta Arte atônita
Para a mímica em lentas estruturas, pedra
Sobre pedra, construída em certo período,
O trabalho noturno do vento demente,
A irreverente arquitetura dessa neve.
Ralph Waldo Emerson, Grandes poetas da língua inglesa do século 19