Debruça-te na manhã
Ela nunca é prematura
Não cobra por entregar-se inteira
como serva que se regozija por existir
Deixa que ela avance em tuas plantas, paredes,
em teus dedos
que alcance teus filhos, amores, filiações
como os animais que buscam calor gratuito por instinto
Tuas roupas sorriem, estendidas
enamoradas dessa atmosfera
e logo voltarão a ti
para celebrar teus encontros, viagens, perdas
teu cansaço
Deixa que a manhã te diga, em silêncio
as palavras que se esconderam de ti
nesta noite que nunca mais voltará
Lembra que, ao abrir os olhos
estarás levando teu sangue a um mundo que não cansa
e segue, em seu perpétuo movimento
até que venha o amanhã
Abre teus braços e recebe este Deus que nunca se perde
Segue
Vai como o sol, em sua exuberância calada
Ilumina em silêncio tua escuridão
teus calabouços, quimeras
E depois,
nada diz
Vestida de sol,
num varal enroscado na alma
haverás de moldar novas formas delicadas
de prenúncios e aleluias
e tudo será eterno
e teu
Samarone Lima, O Céu nas mãos