Sylvia Plath

Sylvia Plath – A Coragem de calar

A coragem da boca fechada, apesar da artilharia!
A linha rósea e quieta, um verme, exposto ao sol.
E há discos negros por trás, discos do ultraje,
E o ultraje de um céu, e os riscos de seu cérebro.
Os discos giram, querem ser ouvidos,

Carregados, como estão, de adultérios.
Adultérios, maus-tratos, deserções e hipocrisia,
A agulha viajando em sua ranhura,
Fera prateada entre dois cânions escuros,
Um grande cirurgião, um tatuador agora,

Tatuando mais e mais as mesmas tristes queixas,
As cobras, os bebês, as tetas
Nas sereias e garotas de sonho.
O cirurgião está calado, não fala nada.
Já viu muitas mortes, suas mãos estão repletas.

Assim giram os discos do cérebro, como bocas de canhão.
E há aquela foice antiga, a língua,
Incansável, roxa. Deve ser cortada fora?
Tem nove caudas, é perigosa.
E o barulho que rouba do ar, quando começa.

Não, a língua também foi deixada de lado
Pendurada na biblioteca entre gravuras de Rangoon
E cabeças de raposas, lontras e coelhos mortos.
É um objeto maravilhoso –
Quantas coisas penetrou em outros tempos!

Mas e os olhos, os olhos, os olhos?
Espelhos matam e conversam, são quartos terríveis
Onde a tortura prossegue e só se pode olhar.

Sylvia Plath, Ariel

Tudo é Poema

Publicado por
Tudo é Poema

Poemas Recentes

Paul Auster – Fala ígnea

Defletes. Desmoronas. Tu… Leia Mais

5 horas atrás

Nikki Giovanni – Nós, também

Estava em casa… Leia Mais

5 horas atrás