É no silêncio que melhor te amo
Os pássaros quedam suas asas nos ninhos
a música dorme seus acordes
o monstro marinho esconde a sua face
Te amo no silêncio de tudo
Quando na noite livros se escondem das poeiras
sinos cortam seus tendões
corpos nus retesam dedos músculos diafragmas
e telefones se calam como um beijo cala a língua
É no silêncio
Quando as pedras descansam das dores dos pés
e os mares sabem da calmaria dos peixes
É no silêncio sem culpa dos torturadores
no silêncio de santos em pecado
no silêncio paciente do voyeur
que te amo melhor
Ouvindo tua chegada
lambendo tuas pegadas
cozinhando teus ossos e teus dentes
É no silêncio tão mais e mais e mais
No silêncio dos ventres e dos umbigos
que te compreendo melhor
e à vida melhor
e aos homens melhor
Que te ouço delicado como um soco no vento
E durmo feliz mastigando teus gemidos
Tanussi Cardoso, Amor, verbo atemporal