sou eu
mulher rachada ao meio
que pareço inteira
mas quebro
por qualquer besteira
julgada a vida inteira
descendo a ladeira
fingindo subir
sou eu
aquela que se espanta
com notícias de jornal
e vê o caos
que destrói o sossego
de qualquer mortal
que é dito
como novo normal
sou eu
cambaleante, sonhadora
que se esfacela à noite
deitada na cama
tentando dormir
na frustrada tentativa
de recuperar o juízo
ou virar personagem
e pela manhã
voltar a sorrir
sou eu
chamada às letras
tentando a cura da alma
que sofro
todos os dias
com o que sai de mim
a mediocridade anormal
escassa
vazia
oca
acabou-se
Fim
Thelma Miguel, O Silêncio e o grito
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