Torquato Neto – Dia

Na praça enorme
sozinho, o homem
quase grisalho
sapatos pretos
camisa branca
gravata velha
terno surrado,
com mãos potentes
o filho dia
arranca às pressas
da noite mãe
e suspendendo-o
o mostra ao mundo.

Na mesma praça
num outro banco
sozinho, um homem
pega o fedelho
com mãos cansadas,
abre-lhe os olhos
e em voz pausada
lança-lhe à cara
seu desafio
mais derradeiro:

“ou me decifras
ou me devoras,
menino chato”.

 

Torquato Neto, Melhores poemas