Eu cantarei de amor tão fortemente,
com tal celeuma e com tamanhos brados,
que afinal teus ouvidos, dominados,
hão de à força escutar quanto eu sustente.
Quero que meu amor se te apresente
– não andrajoso e mendigando agrados,
mas tal como é: – risonho e sem cuidados,
muito de altivo, um tanto de insolente.
Nem ele mais a desejar se atreve
do que merece: eu te amo, e o meu desejo
apenas cobra um bem que se me deve.
Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
e vou, de olhos enxutos e alma leve,
à galharda conquista do teu beijo.
Vicente de Carvalho, Amar, verbo atemporal
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