Na praia de coisas brancas
Abrem-se às ondas cativas
Conchas brancas, coxas brancas
Águas-vivas.
Aos mergulhares do bando
Afloram perspectivas
Redondas, se aglutinando
Volitivas.
E as ondas de pontas roxas
Vão e vêm, verdes e esquivas
Vagabundas, como frouxas
Entre vivas!
Vinicius de Moraes, A rosa de Hiroshima
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Gosto muito de poesia e gostaria de publicar algumas obras
MÃE ESCRAVA 02/2017
Eu sou como a juriti
Que no silêncio da noite se cala
E no ninho seu filho embala
Enquanto o vento balança o galho.
E no retalho
Por suas mãos emendado
Leva seu filho enrolado
Nas manhãs de frio orvalho.
E quando é noite
Pro seu recinto ela volta
Mas seu filho ela não solta
Enquanto pode segurar.
Pois ela sabe
Que é um escravo e a qualquer hora
Pode ser levado embora
Para nunca mais voltar.
E de repente
Sente no corpo um tremo
Percebendo o seu senhor
Lá na senzala chegar.
Agarrando-a pela trança
Sufoca sua esperança
Lhe arranca dos braços a criança
E dá ordem pra levar.
E sem poder fazer nada
Engolindo seu choro calada
Vê chegar a madrugada
Ali sentada no chão.
E logo chega um criado
Fazendo o papel de soldado
Leva-a para um quarto arrumado Cobertores... Cama... Colchão...
Mas lá não tem liberdade
Muito menos felicidade
Vai suprir a necessidade
Do filho de seu patrão.
Vencida pelo cansaço
Ela entrega o seu regaço
Toma a criança nos braços
E encosta em seu coração.
Ela então olha aflita
Para aquela criança bonita
Mas por dentro sua alma grita
Sem sossego noite e dia.
Pensa em seu filho e não dorme
E amargurada não come
Imaginando ele com fome
Nas longas noites tão fria.
Ó juriti!
A quem dará seu carinho?
Pois levaram o seu filhinho
Sua herança, sua alegria...
E em silêncio
No leito chora baixinho
Porque agora só resta o ninho
Onde com ele dormia.
O tempo passa
E aumenta a sua aflição
Tendo em seu coração
As marcas como sinais.
Daquele filho
Que foi de seu seio arrancado
E para longe levado
Talvez não veja já mais.
aparecidasorci@gmail.com