Quando o Sol agoniza no Poente,
Num mar de sangue, enorme, arroxeado,
Eu vejo, sobre o Oceano, alma latente
Dum ser desiludido, torturado.
Essa alma triste desse ser magoado
Que emite a sua voz terna, dolente,
Pelos vagalhões do Mar altivo, irado,
Esvai-se, desfalece lentamente.
Ó Sorte inexorável, Sorte dura!
Tu, muda o seu viver em meiga aurora
Ou sai com ele do Mundo pavoroso,
Desterra essa pobre alma de Tortura,
Leva-a daqui bem longe, Céu em fora,
Acaba o seu tormento doloroso!
Vitorino Nemésio, Cinco séculos de sonetos Portugueses
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