Viviane Mosé – Sem cabimento
Queria escrever todas as plantas e pessoas. todos os rios.
os muros , as cores, os homens, as senhoras de idade.
as caixas de correio , os espanhois.
os olhos e as ruas, os tamanhos e larguras, as alturas.
as pernas, os falos, os pelos , os pulsos.
Queria escrever o ritmo,
das pedras, das estradas calçadas, das margaridas.
escrever o que manda e o que obedece.
o que cresce e o que padece de amparo.
o que afunda, o que eclode.
escrever o que não sabe.
e o que não cabe em lugar nenhum.
E viver a escrita das coisas.
não as coisas que não me cabem.
coisas e pessoas não me cabem e sem cabimento
me atravessam.
pessoas passam depressa demais entre meus poros. e vão.
eu tenho uma imagem presa na garganta.
ser gente me arranha.
quero voltar a ser palavra.
Acho que o oficio de ser gente me excessiva
pessoas são pessoas o tempo todo demais.
ser gente me excessiva.
e me falta.
Viviane Mosé, Pensamento Chão