Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem teto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito de amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão,
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jatos d’água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais – eu sei,
qualquer um o sabe –
o coração tem domicílio, no peito.
Comigo, a anatomia ficou louca.
Sou todo coração – em todas as partes palpita.
Oh! quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável não para o verso
deveras.
Vladimir Maiakovski, Antologia poética
1 Comentário
Aparecida Sorci
02/07/2018 at 09:49Achei impressionante!