Quando às sessões do mudo pensamento
Convoco as remembranças do passado,
Sentindo a ausência do que amei, lamento
Com velhos ais, de novo, o tempo amado;
E, avesso ao pranto, os olhos meus inundo
Por amigos que esconde a noite avara:
Penas de amor que já paguei refundo;
Choro o perder de tanta imagem cara.
E me infligindo uma aflição sofrida,
De pesar em pesar repeso agora
O balanço da dor adormecida
Como se o saldo não saldado fora.
Mas se então penso em ti nesse ínterim,
Restauro toda a pena e a dor tem fim.
William Shakespeare, 50 sonetos
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