Wisława Szymborska

Wisława Szymborska – Efígie

Se os eleitos dos deuses morrem cedo,
o que fazer do resto da vida?
A velhice é como um abismo
já que a juventude é o cume.

Daqui não saio.
Continuarei jovem ainda que numa perna só.
Com bigodes fininhos
como o guincho de um rato
me agarro ao ar.
Nessa posição renasço continuamente.
Não conheço outra arte.

Mas serei sempre eu:
as luvas mágicas,
na lapela a roseta da primeira mascarada,
o falsete dos manifestos juvenis,
o rosto do sonho da costureira com um crupiê,
os olhos que eu gostava de pintar retirados
e de espalhá-los como ervilhas de uma fava,
pois vendo isso tremiam as coxas mortas
da rã pública.

Espantem-se também vocês.
Espantem-se, por cem barris de Diógenes,
que eu o venço em ideias.
Rezem
o recomeço eterno.
Isto que seguro nos dedos
são aranhas que mergulho na tinta nanquim
e atiro na tela.
Estou no mundo outra vez.
Floresce um novo umbigo
na barriga do artista.

Wisława Szymborska, Para o meu coração num domingo

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