Minha irmã não escreve poemas
e acho que nem vai de repente começar a escrever poemas.
Puxou isso da nossa mãe, que não escrevia poemas,
e do nosso pai, que também não escrevia poemas.
Sob o teto de minha irmã me sinto segura:
o marido de minha irmã por nada no mundo escreveria
poemas.
E embora isso soe repetitivo como uma litania,
nenhum dos nossos parentes se ocupa em escrever poemas.
Nas gavetas de minha irmã não existem poemas antigos,
nem na sua bolsa, poemas recém-escritos.
E quando minha irmã me convida para almoçar,
sei que não tenciona ler poemas para mim.
Faz sopas deliciosas sem premeditação.
E não derrama café sobre manuscritos.
Em muitas famílias ninguém escreve poemas,
mas se isso acontece — é raro ficar numa só pessoa.
Às vezes a poesia desce em cascatas pelas gerações,
criando turbilhões perigosos nos sentimentos mútuos.
Minha irmã pratica uma razoável prosa falada,
e toda a sua obra se limita a postais escritos nas férias,
cujo texto promete o mesmo todo ano:
que ao voltar
tudo
tudo
tudinho ela vai contar.
Wisława Szymborska, Um amor feliz
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