Primeiro passará o nosso amor,
depois cem, duzentos anos,
depois nos encontraremos de novo:
um casal de comediantes,
os favoritos do público,
vai nos representar no teatro.
Uma pequena farsa com canções,
um pouco de dança, muito riso,
uma boa comédia de costumes
e aplausos.
Você irresistivelmente cômico
nesse palco, com esse ciúme
e essa gravata.
Minha cabeça virada,
meu coração e coroa,
o coração tolo rebentando
e a coroa despencando.
Vamos nos encontrar,
afastar, a sala rindo sem parar,
e sete rios, sete montes
entre nós imaginar.
E como se não bastassem
os fracassos e as dores da vida
— nos feriremos com palavras.
Depois faremos mesuras
e com a farsa terminada,
o público irá dormir
depois de muita risada.
Eles vão viver contentes,
o amor vão amansar,
o tigre vai comer nas suas mãos.
E nós sempre assim desse jeito,
nós de barretes com guizos,
com seu tinido bárbaro
nos nossos ouvidos.
Wisława Szymborska, Um amor feliz – Poemas
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